Mortes por doenças cardiovasculares em Manaus sobem na pandemia - Opinião Manauara

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Mortes por doenças cardiovasculares em Manaus sobem na pandemia

 Manaus teve aumento de 132% de mortes por problemas cardíacos e AVC


Manaus (AM) - Um estudo brasileiro constatou que as mortes por doenças cardiovasculares aumentaram significativamente durante a pandemia da Covid-19. Manaus é a cidade que mais viu os óbitos por essas causas crescerem: 132% a mais do que no ano passado. No Brasil, o número de mortes por doenças cardíacas cresceu também 132%. Ao todo, seis municípios tiveram os dados coletados. Além de Manaus,  Belém com 126%, Fortaleza 87%, Recife 71%, Rio de Janeiro 38% e São Paulo 31%.

O estudo que foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Hospital Alberto Urquiza Wanderley e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), observou que houve uma diminuição nos atendimentos hospitalares de casos de pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) e problemas cardíacos.

A pesquisa não só percebeu uma diminuição nos atendimentos como o aumento nas mortes por essas duas enfermidades, diagnosticadas como causa de acidentes cardiovasculares não específicas, termo designado para mortes com falta de diagnóstico preciso e quando a morte acontece fora do ambiente hospitalar. Os dados foram obtidos com a análise nos obituários nos cartórios de registros civis dos municípios.

Aloísio Silveira é uma das pessoas que pertencem a essa triste estatística no Amazonas. Aloísio tinha 81 anos quando faleceu em casa depois de ficar muito debilitado de um AVC em abril de 2020, momento em que a pandemia do novo coronavírus vitimou muitas pessoas em todo o estado do Amazonas. Ele possuía hipertensão arterial, mas segundo a filha tomava os medicamentos corretamente. “Nós tínhamos medo de levá-lo para um hospital, porque a pandemia estava causando muito medo. Quando tentamos levá-lo os hospitais não estavam atendendo presencialmente, somente por vídeo consulta. Ele chegou até a ser consultado assim, mas não resistiu”.


O médico cardiologista Paulo Ferreira conta que por conta da pandemia perdeu um de seus pacientes. “Eu tinha um paciente cardiopata jovem que tinha entre 40 e 50 anos. Durante uma noite ele teve um desconforto no peito e eu o orientei que ele procurasse um hospital no dia seguinte. Ele foi ao hospital e constatou que haviam muitas pessoas aguardando atendimento por complicações da covid-19. Ele desistiu então do atendimento por vontade dele e na noite seguinte faleceu por conta do problema cardíaco”, conta o médico.

A professora Sângela Santana é uma cardiopata que está evitando hospitais no período da pandemia.  Ela deixou de realizar os exames de rotina anuais em 2020 e 2021. “Tenho medo de ser contaminada no hospital. Como eu sou do grupo de risco, prefiro evitar. Isso prejudica meu acompanhamento, é claro, mas eu prefiro não me arriscar”, afirmou a professora.

Complicações da Covid-19 aos cardiopatas

Segundo o médico cardiologista Paulo Ferreira, a Covid-19 também pode trazer complicações aos pacientes cardiopatas. “Sabemos que o vírus pode agredir a célula de qualquer órgão, é claro que o mais comum é o sistema respiratório, mas este não deixa de agredir as células do músculo cardíaco, as artérias e um mecanismo todo da cadeia. O vírus pode causar uma artrite que é uma inflamação na artéria. Existe nesses casos um infarto que chamamos de inflamatório, que é quando o bombeamento do sangue está sendo prejudicado, porque a artéria está inflamada ou pode ocorrer também uma trombose dentro da artéria”.

O cardiologista Bruno Ramos que contribuiu com a pesquisa diz que esses dados alarmantes podem indicar aos agentes públicos que é preciso uma atenção também para esses casos mesmo com a pandemia. “Os dados podem contribuir para a formulação de políticas públicas para que continuem atendendo os casos de covid-19, sem esquecer das demais doenças”.

Mesmo com os casos de covid-19 necessitando de atenção dos agentes de saúde, a Secretaria de Estado de Saúde informa que as cirurgias continuam. “Essas doenças não param de evoluir se você não fizer um procedimento. Então, são cirurgias que não podem ser adiadas com o risco de agravar a situação do paciente. O câncer, por exemplo, você sabe que ele evolui, então, precisa ter as cirurgias. As emergências e urgências continuam acontecendo”, conta o secretário estadual de saúde Marcellus Campêlo.

Adiamentos

Em razão da pandemia, para concentrar esforços no combate à Covid-19, a SES informa que as demais cirurgias não urgentes serão adiadas preventivamente. Outros estados, como Rio de Janeiro e Paraná, também já haviam adotado tal medida por conta do recrudescimento da Covid-19 no país.

O adiamento de alguns procedimentos eletivos ocorre em consonância com a recomendação do Conselho Regional de Medicina (Cremam) nº 02/2020, que discorre sobre o adiamento de cirurgias e procedimentos invasivos-eletivos de pacientes com doenças benignas. 

A resolução do órgão também propõe a suspensão temporária de cirurgias em pacientes com fatores de risco com idade superior a 50 anos, hipertensos, diabéticos, cardiopatas, pneumopatas, renais crônicos e tabagistas.

No caso dos procedimentos adiados, os recursos humanos e materiais envolvidos serão liberados e redirecionados para o enfrentamento da emergência de saúde pública, em razão da pandemia por Doenças Infecciosas Virais (Covid-19).

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