STF julga nesta quarta ação que pode beneficiar Lula e outros presos da Lava Jato
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato Foto: Helvio Romero/Estadão |
BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal analisa nesta quarta-feira, 25, habeas corpus apresentado pela defesa de um ex-gerente da Petrobrás que discute o direito de um réu se manifestar na ação penal após as alegações dos delatores acusados no processo.
O
resultado desse julgamento pelo plenário da Corte pode levar à anulação de mais
condenações da Lava Jato e,
eventualmente, beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
condenado e preso na operação. O Estadão acompanha o julgamento ao vivo a
partir das 14h.
A
discussão da controvérsia, ou seja, se um réu delatado pode se manifestar nos
autos depois dos delatores para rebater as acusações, deve fazer com que os 11
integrantes da Corte avaliem o entendimento que anulou, no
mês passado, a condenação do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobrás
Aldemir Bendine.
O
habeas corpus a ser examinado pelo plenário é do ex-gerente da Petrobrás Marcio
de Almeida Ferreira. No papel, o processo de Ferreira guarda semelhanças com o
de Bendine. A defesa do ex-gerente alegou que ele sofreu grave constrangimento
ilegal por não poder apresentar as alegações finais depois da manifestação dos
réus colaboradores.
No
mês passado, por 3 votos a 1, a
Segunda Turma do Supremo derrubou uma decisão do ex-juiz federal Sérgio Moro que
havia condenado Bendine a 11 anos de reclusão pelos crimes de corrupção passiva
e lavagem de dinheiro. Foi a primeira vez que o Supremo anulou uma condenação
de Moro, impondo uma das maiores derrotas da Lava Jato no tribunal até hoje.
Aquele
julgamento também marcou a primeira vez que a ministra Cármen Lúcia discordou
do relator da Operação Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin, em
julgamentos cruciais da Lava Jato julgados na Segunda Turma da Corte, conforme
mapeamento do 'Estado'.
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A estátua da Justiça, em frente ao STF, na Praça dos Três Poderes, em Brasília Foto: Dida Sampaio/Estadão |
Isolado. Fachin
foi contra derrubar a condenação imposta por Moro a Bendine, mas acabou isolado
na Turma. Por outro lado, Cármen Lúcia se alinhou aos ministros Gilmar Mendes e
Ricardo Lewandowski, dois dos maiores críticos da Lava Jato no Supremo, mas a
ministra ressaltou que o seu voto naquela ocasião considerou as peculiaridades
do caso específico de Bendine.
No
seu voto, Lewandowski afirmou que o direito de a defesa falar por último
“decorre do direito normativo”. “Réus delatores não podem se manifestar por
último em razão da carga acusatória que permeia suas acusações. Ferem garantias
de defesa instrumentos que impeçam acusado de dar a palavra por último.”
Ausente, o decano do Supremo, ministro Celso de Mello, não participou da
análise do caso na Turma, mas pode ser decisivo agora com o julgamento da
questão no plenário.
Naquela
ocasião, a maioria dos ministros acolheu a argumentação da defesa de Bendine,
que criticou o fato de o executivo ter sido obrigado por Moro a entregar seus
memoriais (uma peça de defesa) ao mesmo tempo em que delatores da Odebrecht
apresentaram acusações contra ele. Bendine havia solicitado prazo diferenciado,
mas o pedido foi negado.
Expectativa. Segundo
o Estado apurou, a expectativa é a de que o plenário do Supremo se
divida sobre o tema, expondo novamente as divergências internas em matéria criminal.
Integrantes da Corte avaliam que o Supremo pode delimitar o entendimento da
Segunda Turma, em um esforço para “reduzir danos” e preservar parte das
sentenças já proferidas.
Nos
bastidores, uma das alternativas discutidas é a de anular as condenações somente
daqueles réus que haviam solicitado durante o andamento da ação o prazo
diferenciado para a apresentação das alegações finais, mas tiveram o pedido
rejeitado pela Justiça. Essa saída teria o potencial de diminuir o número de
casos em que investigados poderão se livrar das condenações, avaliaram fontes
ouvidas reservadamente pela reportagem.
Com
base na decisão da Segunda Turma que beneficiou Bendine, a defesa do
ex-presidente Lula pediu à Corte que anule suas condenações e também uma ação
que ainda tramita na Operação Lava Jato. A defesa também pede que o petista
seja posto em liberdade.
O
pedido do advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente, abarca
a sentença que condenou o petista a 12 anos e 11 meses de prisão imposta pela
juíza Gabriela Hardt no processo do sítio de Atibaia (SP) e a condenação
determinada pelo ex-juiz Sérgio Moro a 9 anos e 6 meses no caso do triplex do
Guarujá (SP) - a pena foi reduzida posteriormente pelo Superior Tribunal de
Justiça a 8 anos e 10 meses.
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