Venda de remédios dispara no Amazonas
Enquanto a cloroquina teve aumento de 111% nas vendas em todo o estado, a comercialização de ivermectina cresceu mais de 400%
Medicamentos como a hidroxicloroquina (antimalárico), a ivermectina (vermífugo) e a nitazoxanida (antiparasitário) tiveram altas expressivas nas vendas no ano de 2020 em virtude da pandemia de Covid-19. O motivo é a crença de que esses medicamentos sejam fórmulas milagrosas que previnam ou curem a doença que já matou mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo.
Embora não haja evidências científicas de que os medicamentos funcionem, levantamento feito pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) mostra que as vendas da hidroxicloroquina, por exemplo, mais que dobraram, passando de 963 mil em 2019 para 2 milhões de unidades em 2020. O aumento foi ainda maior no caso da Ivermectina, atingindo 557,26%. No Amazonas, o aumento foi de 440% para a Ivermectina e de 111% para a Hidroxicloroquina.
Conselho de Farmácia
O quadro preocupa o Conselho Federal de Farmácia, que em sua 500ª Reunião Plenária Ordinária, realizada em 28 e 29 de janeiro, aprovou documento em que se manifesta sobre o chamado “tratamento precoce” da Covid-19. Na nota, o Plenário no CFF reafirma seu apoio à assistência à saúde baseada em evidências científicas e à vacinação; lembra que farmacêuticos têm obrigação ética e legal de promover o uso racional de medicamentos, e que a responsabilidade legal é compartilhada com proprietários de farmácias; reitera a responsabilidade técnica dos farmacêuticos na dispensação; e informa que infrações éticas, legais ou às normas sanitárias devem ser denunciadas aos conselhos regionais de Farmácia e aos órgãos de vigilância sanitária locais.
“O CFF já se posicionou inúmeras vezes diante da categoria e da sociedade, reafirmando sua defesa da assistência à saúde baseada em evidências” comentou o assessor da Presidência do CFF, professor Tarcisio Palhano. Inclusive publicou carta aberta e nota técnica sobre o tema, nas quais reafirma a autoridade técnica do farmacêutico no ato da dispensação de medicamentos sem comprovação científica aos clientes,
Um dos cuidados recomendados é verificar se houve a assinatura do Termo de ciência e consentimento entre o médico e o paciente. O farmacêutico também deve utilizar a sua competência técnica para avaliar e atender às necessidades do paciente e decidir cada situação, caso a caso.
Ivermectina
A farmacêutica americana Merck, empresa que desenvolveu a ivermectina nos anos 1980 e até hoje é a principal fabricante, afirmou que não existem evidências sobre a eficácia do medicamento contra a covid-19.
Em comunicado, a empresa afirmou que, segundo suas análises: Não há base científica para um efeito terapêutico potencial contra covid-19 nos estudos pré-clínicos; Não há evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com a doença covid-19.; Há uma preocupante falta de dados de segurança na maioria dos estudos conduzidos para detectar se a ivermectina tem efeito contra a covid-19.
Mesmo sem evidências que apoiem seu uso contra a covid-19, a ivermectina, assim como a hidroxicloroquina – outro remédio ineficaz contra o coronavírus –, se tornou uma das drogas favoritas do governo Jair Bolsonaro. O presidente incentiva regularmente o uso do vermífugo como parte de um "tratamento precoce" contra a covid-19 e o remédio foi incluído nos assim chamados "kit covid" distribuídos pelo governo.
Números no Amazonas
HIDROXICLOROQUINA: 8.816 (2019) - 18.562 (2020) - 111%
IVERMECTINA: 159.368 (2019) - 860.917 (2020) - 440%
DEXAMETASONA: 402.466 (2019) - 433.486 (2020) - 8%
NITAZOXANIDA: 222.807 (2019) - 248.784 (2020) - 12%
ASCORBICO ACIDO: 1.729.862 (2019) - 2.310.958 (2020) - 34%
Nenhum comentário