Livro ‘Ariá: um alimento de memória afetiva’ é finalistas do Prêmio Jabuti Acadêmico
A comissão organizadora do Prêmio Jabuti Acadêmico acaba de tornar pública a lista dos finalistas da sua segunda edição. Dentre eles, encontra-se o livro Ariá: um alimento de memória afetiva, concorrendo na categoria Ilustração. Esta obra é resultado da parceria da Editora Valer com a Editora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa, e uma marcante colaboração de autores indígenas e não indígenas.
Ariá (Goeppertia allouia, sinônimo de Calathea allouia) é o nome dado a um tubérculo nutritivo, utilizado como alimento pelos povos tradicionais do Amazonas que, com o passar das décadas, foi desaparecendo das feiras e mercados da região. O livro é uma obra importante que carrega um rico valor histórico, seus usos e modo de preparo são uma expressão de resistência cultural de um povo majoritariamente marginalizado pela sociedade brasileira.
A inspiração para o livro nasceu das lembranças de infância de Dona Nora, avó materna do autor Eli Minev-Benzecry, de apenas 17 anos. O livro conta também com a tradução para a Língua Ye’pâ-masã (Tukano), feita por Rosilda Maria Cordeiro da Silva.
A ilustradora Hadna Abreu declarou estar muito contente por concorrer como finalista numa premiação de reconhecimento nacional, ressaltando:
“Uma premiação em nível do Jabuti Acadêmico traz reconhecimento não somente para os autores, como também para toda a região norte! O Eli Minev teve um papel crucial como organizador e idealizador do Ariá, já a Noêmia, é uma excepcional pesquisadora que sonha em trazer um Jabuti para o Norte. O livro é belíssimo e traz um senso de coletividade, afeto e memória dos povos amazônidas, sinto-me honrada por ilustrar uma obra tão marcante”.
Para a coordenadora editorial da Valer, professora doutora em Filosofia Neiza Teixeira, ser finalista do Jabuti Acadêmico é um motivo de grande satisfação, tendo em vista que a disputa e conquista do prêmio aponta para a sua importância social e cultural.
“Além disso, do ponto de vista local, remete a população amazônica para o reencontro com a sua cultura, com o seu chão. É um trabalho que ultrapassa a gastronomia e a economia: é um reencontro de seres”, ressaltou Neiza.
O Jabuti é uma das mais importantes premiações no ramo literário do Brasil, reconhecendo talentos como autores, ilustradores, livreiros, literatura ficcional e não ficcional e outros setores que se destacam na produção de livros.
Apesar de receber inúmeros manuscritos excelentes, havia a necessidade de segregar a premiação em virtude de contemplar obras acadêmicas, é quando surge o Jabuti Acadêmico. A comissão organizadora do Jabuti Acadêmico definiu como ponto fulcral da premiação livros científicos oriundos de pesquisas e livros técnicos, no qual se insere o livro Ariá.
Uma obra bilíngue, sensorial e científica
Neiza Teixeira destacou ainda o caráter multicultural e intergeracional da publicação:
“A obra evidencia a amazonidade e valoriza a auricularidade, um saber que se transmite pela escuta. Ela promove um diálogo entre o conhecimento ancestral dos povos originários e a ciência, sem hierarquias.”
O diretor do Inpa, Dr. Henrique Pereira, prefacia a obra destacando o potencial do Ariá como aliado em tempos de crise climática: “Este livro pode inspirar uma nova valorização dos alimentos e práticas culturais essenciais às comunidades amazônicas.”
Ele reforça que a obra é um convite para celebrar o mundo amazônico e sua sociobiodiversidade, promovendo sustentabilidade e soberania alimentar.
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